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sexta-feira, 3 de junho de 2011

Por que temos soluço?




Já notou que você inspira e expira regularmente todas as horas do dia, acordado ou dormindo, sem precisar prestar atenção ou querer respirar voluntariamente? A respiração é um ciclo de contrações musculares tão fundamental à vida que temos no bulbo do cérebro uma “central geradora de padrões rítmicos” dedicada a comandar e coordenar os músculos que forçam os pulmões a se expandir e depois a se contrair ciclicamente 24 horas por dia, a cada dia da nossa vida. Com tantos ciclos seguidos ao longo da vida, é de se esperar que a central geradora de padrões erre de vez em quando gerando tentativas vãs de inspirar fora de hora. Essas tentativas são os soluços.
Um soluço é a contração súbita, sincronizada – embora fora do ciclo respiratório normal – e intensa dos músculos intercostais, escaleno (que eleva os ombros) e diafragma, cuja ação conjunta é expandir a caixa torácica e com ela os pulmões, forçando ar para dentro deles. Essa contração, que dura cerca de meio segundo, no entanto, não traz praticamente ar algum para os pulmões porque, assim que começa, é seguida quase imediatamente pelo fechamento da glote, que bloqueia a traqueia e com isso toda a passagem de ar.
Dada a intensidade da contração dos músculos da inspiração durante um soluço, o fechamento da glote é uma coisa boa. Se a traqueia desse acesso aos pulmões, o volume de ar inspirado seria tão grande que em poucos minutos poderíamos estar sofrendo de alcalose sanguínea por hiperventilação.
Ou talvez os soluços não sejam erros, e sim um ‘modo 2’ de funcionamento do gerador de padrões respiratórios que temos em comum com vertebrados dotados de guelras, como as rãs. Neles, a inspiração com a glote fechada faz o ar entrar nos pulmões pelas guelras, e não pela traqueia. A nós, como perdemos lá no começo da gestação o que viriam a ser as guelras, só nos resta o barulho – hic! – da breve inspiração antes que a glote se feche. Uma evidência curiosa a favor desse ‘modo 2’ herdado de algum ancestral em comum com as rãs é o fato de os soluços serem freqüentes durante a gestação humana e especialmente comuns no período perinatal, quando o trato respiratório precisa amadurecer rapidamente – os soluços dos bebês parecem ser parte do desenvolvimento normal, e não causados por frio, vento ou algo parecido. Há quem diga até que os soluços seriam uma maneira de o cérebro treinar os músculos da inspiração antes do nascimento.
Em seres humanos crescidos, há várias maneiras comprovadas de fazer o gerador de padrões respiratórios do cérebro entrar no ‘modo 2’ nas horas vagas, entre uma inspiração e outra. Todas tem a ver com irritar os nervos que normalmente mantêm o gerador de padrões informado sobre o bom andamento da respiração, o que em situações normais é fundamental para que a respiração possa ser acelerada ou desacelerada, ou fique mais superficial ou profunda conforme as necessidades metabólicas do corpo.
Engolir muita comida rápido demais (o que dilata o esôfago e perturba o gerador de padrões respiratórios)
Beber refrigerantes gasosos
Álcool demais (causa irritação química do esôfago)
Rir demais ( causa irritação mecânica do esôfago)
Causas mais preocupantes de soluços em geral e persistente pode ser com traumas, infecções e tumores no cérebro ou esôfago
Introduzir o dedo na boca e apertar o fundo da língua – essa técnica funciona por disparar o reflexo de deglutição que causa um impedimento temporário da respiração e dão ao gerador de padrão respiratório a oportunidade de fazer um reset e parar com o soluço.
Inspirar fundo e prender a respiração, fazer a manobra de Valsava – inspirar fundo e, com o nariz tapado, fazer força para expelir todo o ar do corpo (uma sensação que a orelha vai explodir)
Inspirar profundamente e segurar a respiração uns 10 segundos – imobilizando por alguns segundos o diafragma e o gerador de padrões respiratórios. Ao prender a respiração faz aumentar a quantidade de gás carbônico no sangue, inibindo diretamente o comando dos soluços pelo bulbo cerebral.
Massagear o reto com o dedo, comprimir os olhos com os dedos ou fazer sexo até atingir o orgasmo. Essas técnicas levam à estimulação do nervo vago, que modula o funcionamento do gerador de padrões respiratórios
Tratamento com relaxantes musculares ou antipsicóticos, interrupções cirúrgica do nervo frênico (que provoca o espasmo do diafragma) ou estimulação elétrica do nervo vago (que inibe o gerador padrão). Essas técnicas só em casos graves e são feitas somente pelo médico especialista.

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